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Gestão ministerial – Música, louvor e adoração

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Vou abordar um pouco o tema de gestão ministerial com foco no ministério de música, louvor e adoração, quero abordar alguns aspectos que entendo ser importantes para uma boa gestão. É necessário entender que o líder deste ministério não pode se escorar na desculpa de que o espiritual vem em primeiro lugar, deixando de lado os demais aspectos que acompanham o líder e a música.

Nestes muitos anos de ministério, passando por diversas igrejas, pude observar como as lideranças trabalham, me levando a conclusão que há muita confusão em relação ao papel do líder, em especial no papel do líder nos diversos ministérios.

De modo geral, as lideranças se concentram em cobrar um comportamento exclusivamente espiritual, regular o comportamento do departamento no horário de culto, doutrinar a equipe e ser um porta-voz do pastor, partindo inclusive de como os líderes são escolhidos, sendo uma das principais características o não confronto das lideranças.

Observamos que a empatia é seletiva, costuma funcionar bem para os mais chegados ou os que oferecem algo a mais, mas tende a ter outro peso e outra medida para os demais.

A matéria de liderança na atualidade está nos currículos de diversos cursos de formação ou extensões, ou seja, não é um tema exclusivamente espiritual, existem métodos e formas adequadas para cada situação, existem ferramentas que podem auxiliar a melhor gestão das pessoas, do conhecimento e no caso da igreja até mesmo no lado espiritual.

Precisamos entender que dentro de um ministério de música a liderança, que acumula muitas vezes a função de líder da música, equipe técnica de som e multimídia, quase sempre tendo quer ser cantor ou músico, terá também que lidar com pessoas, com a parte técnica, com o lado espiritual e principalmente com as expectativas dos membros da igreja e da liderança.

Observamos com grande frequência que líderes de ministérios de louvor tendem a limitar todas as suas decisões como se fossem exclusivamente espirituais, desconsiderando os aspectos administrativos do seu papel, financeiros, humanos e técnicos, tornando sua liderança limitada.

De modo geral, percebo que a liderança de louvor não sabe o seu papel ou o papel do ministério a qual está inserido, parte disso vem da falta de preparo individual e da liderança da igreja que deixa de orientar de forma clara, estabelecendo os limites, papéis e responsabilidade.

Me preocupa em tempos atuais, com o acesso facilitado a informação, cursos online com preços extremamente atrativos e oportunidades nunca experimentadas, e mesmo assim continuamos a repetir os erros do passado, escolhendo líderes de forma errada, incentivando a ignorância, sendo permissivos com músicos preguiçosos e despreparados, fechando os olhos para problemas tão básicos, gastando o dinheiro dando com tanto amor em equipamentos desnecessários ou equipamentos errados adquiridos pela falta de preparado da equipe técnica. 

Vou abordar abaixo alguns aspectos do que entendo ser importantes para uma boa gestão ministerial, poderia encher de versículos para tentar explicar o porquê você deve ser um líder melhor, mas tenho quase certeza que se é um cristão e frequenta a igreja alguém já deve ter falado de todos eles, prefiro crer que temos ainda um pouco de juízo.

Gestão de pessoas

A igreja é fundamentalmente formada por pessoas, ou seja, quando lideramos na igreja estamos liderando pessoas, não lideramos ou temos poder sobre o Espírito Santo, Jesus, Deus ou anjos. O ministério de louvor é formado essencialmente por pessoas, e para isso é preciso lidar com elas. Quando tocamos estamos fazendo isso também para as pessoas através do dom/talento de outras pessoas, com um objetivo comum de louvar e adorar ao nosso Deus, contudo é pouco provável que Deus esteja totalmente satisfeito se deixamos toda a igreja e o ministério mal direcionados.

É preciso entender que um bom líder não definido pela sua capacidade de cantar ou escolher as músicas que agradem à igreja e aos pastores, o líder de louvor deve ter tempo e saber como lidar com pessoas, em especial com as frustrações geradas pelo ministério. Devido à evidência do ministério, é comum que os membros do ministério de música se percam no meio do caminho, seja pelo assédio de outras pessoas ou pela própria concepção de vida como músico.

O líder deve ter condições de identificar, apoiar e se compadecer para direcionar adequadamente cada situação, em casos mais grave direcionar para os pastores da igreja.

Gestão espiritual

Não é o papel do líder de louvor liderar espiritualmente a vida de cada membro da banda, exceto se ele for também o pastor da música, do contrário é papel dos pastores, bispos e presbíteros tratar os aspectos espirituais individuais. Cabe ao líder do ministério avaliar e identificar o que está ocorrendo para direcionar aos pastores, após isso atuar como apoio no dia a dia destas pessoas. O líder de louvor pode, sim, ser um porta-voz da liderança da igreja e transmitir as orientações gerais da igreja que se aplicam também ao ministério de louvor, mas nunca assumir sem o devido respaldo e preparação a função devida ao pastorado/presbitério.

Se o líder não é responsável espiritualmente pelos músicos, tão pouco é pela vida igreja. Acredito que se boa parte dos líderes se preocupassem em fazer bem o seu trabalho no ministério de música teríamos louvores bem tocados e até mesmo novas composições.

Agora existe um aspecto ligado ao mundo espiritual que o líder tem responsabilidade, sobre a condução de ações e encontros para que em grupo possam ler a palavra, cantar, orar e buscar pela graça de Deus, promovendo os encontros, momentos antes ou após o ensaio. Mas ao identificar um problema de âmbito individual deve conseguir encaminhar para o ministério que possa ajudá-la.

Gestão técnica

É importante entendermos que a área da música, multimídia, operação de som, internet e vídeo são áreas extremamente técnicas, dependem que o líder tenha condições de tomar decisões sobre compra dos melhores equipamentos, sobre a técnica utilizada, sobre a capacidade e conhecimento técnico da equipe, é fundamental que tenha condições entender como as coisas funcionam. Em alguns ministérios temos a separação da responsabilidade espiritual e técnica, possuindo um pastor do ministério de música e um líder do departamento (responsável técnico).

A música é uma matéria técnica apoiada pela matemática, física e eletrônica, que explicam como os elementos usados para entregar um determinado som se relacionam. Usamos a música para apoiar nas celebrações como uma ferramenta, mas a música não é uma matéria espiritual em sua essência.

O líder do ministério de música precisa ter conhecimento e habilidades técnicas, do contrário as decisões tomadas serão fundamentadas em “achismo” ou ficará refém da opinião dos membros do ministério, ou pior, refém da opinião de lojistas e terceiros. O líder deve ser o primeiro a estudar temas relacionados ao ministério, mas o que vemos é o oposto, quanto menor a capacitação técnica dos líderes maior é o prestígio junto a liderança da igreja.

Costumo dizer que temos problemas maiores do que errar na comprar de equipamentos ou cuidar dos caprichos dos músicos, a igreja e as comunidades padecem de apoio, mas a igreja está ocupada demais gastando dinheiro de forma errada e desperdiçando o dinheiro que deveria ser usado para cuidar dos órfãos, viúvas, cansados e oprimidos.

Gestão de expectativas

O último aspecto que virá sobre a vida do líder do ministério de louvor será lidar com as frustrações dos membros do ministério, da igreja e da liderança da igreja.

Haverão frustrações por não tocar ou por tocar uma determinada música, por não ter o conhecimento ou por alguém ter o conhecimento demais, pelos equipamentos, pela exposição, pelas agendas, pelas decisões ministeriais, ou seja, existem grandes oportunidades para alguém se frustrar com o ministério de música.

O líder precisa se preparar para lidar com essas frustrações, necessitando de muita sabedoria e um bom conhecimento para evitar decisões erradas, se as pessoas se frustram com as decisões certas, imagine com as erradas.

O líder terá que lidar com aquele cantor que quer “esmerilhar” (enfeitar) demais, com os solos excessivos, com aquele músico que gostaria de transformar o louvor do culto da família em um show de rock, do baixista e batera groovadores, ou seja, razões para que alguém fique chateado no ministério é o que não faltam, que pode ser potencializada quando somada a ausência de um objetivo claro.

Gestão financeira

Não menos importante que as demais, a questão financeira dos ministérios podem variar muito de igreja para igreja, se em algumas faltam dinheiro, em outras ocorre a falta sabedoria para administrar. Equipamentos de música, som e imagem no Brasil são caros, além de termos acesso limitado aos bons equipamentos e uma assistência técnica duvidosa.

Não cabe ao líder do ministério cuidar das finanças ou ser um perito em orçamento, mas é fundamental que não seja “um sem noção”, uma pessoa indiferente e sem o mínimo de compreensão de que a música não é a atividade fim de uma igreja, mas o cuidado com as pessoas.

Sempre defendo que devemos ter um grande zelo ao pensar em gastar cada centavo das doações (dízimos e ofertas) daqueles que vão à igreja, pois para a maioria este dinheiro é dado com sacrifício. Temos que ter em mente que o propósito original destas ofertas deveriam ser o cuidar dos órfãos, viúvas, daqueles que estão desamparados, dos irmãos mais fracos, daqueles que precisam de ajuda, sendo o investimento em equipamentos um tema secundário.

Não quero ser hipócrita e dizer que gostaria de equipamentos melhores, mas precisamos aprender a nos contentar com o necessário quando o assunto se tratar do uso das ofertas da comunidade.

Limpe as cordas, limpe a bateria, cuide dos equipamentos, faça as manutenções, use com cuidado, não empreste, não deixe nas mãos de crianças, tenha um zelo se possível maior do que com seus próprios equipamentos.

Conclusão

Poderemos criar um ambiente mais criativo, capaz de trazer músicas melhores, riffs melhores, letras melhores, pessoas melhores se tivermos líderes com um melhor preparo técnico e espiritual para orientar e promover um ambiente de crescimento.

Não podemos esquecer da disciplina, historicamente o ministério de música é cercado de comportamentos fora de padrão, mas me assusta quando não há disciplina alguma também no cuidado do dom e de seu ministério, precisamos de músicos disciplinados, capazes de executar corretamente as canções sem ceder aos seus caprichos, sejam eles devido à preguiça, indiferença ou egocentrismo.

Um bom ministério não é construído rapidamente, é uma jornada que requer conhecimento, esforço, dedicação, sacrifícios, pessoas, ensaios, muitos ensaios, mais estudos, oração e comprometimento de todos.

Precisamos de um novo tempo na música cristã no Brasil, dotada de pessoas dispostas a mudar esta realidade, a se comprometerem com um pouco mais do que o mínimo. Deus e sua igreja merecem mais.

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